Caos: o panorama do trânsito em Belo Horizonte
Com cada vez mais veículos nas ruas, transporte público ruim e o desrespeito pelas leis de trânsito, a capital mineira figura na lista das piores cidades em mobilidade urbana
Buzinas, pessoas nervosas, gritaria e carros, muitos carros. A cena é uma das mais comuns na cidade de Belo Horizonte. A primeira cidade planejada da América Latina, construída em 1897, não esperava que a população e, consequentemente, a frota de veículos crescesse tanto. De acordo com a BHTrans, em 2009 já eram quase um milhão e meio de automóveis circulando pela capital, o equivalente a um automóvel para cada dois habitantes.
As causas para um trânsito tão intenso são muitas. Acabam sendo geradas por um conjunto de situações que atrapalham a mobilidade urbana. Porém, para o Chefe do Departamento de Engenharia e Geotecnia da UFMG, Nilson Tadeu Nunes o ponto principal do problema está no aumento da frota que, segundo dados da BHTrans, cresceu quase 50% entre os anos de 2004 e 2009.

Cruzamento das avenidas Brasil, Bias Fortes e Cristóvão Colombo, em BH
No entanto, Nilson Nunes diz que o aumento indiscriminado de veículos nas ruas é reflexo das condições do desenvolvimento urbano da capital, como o crescimento desordenado dos demais municípios da região metropolitana e o adensamento populacional. “Vem ocorrendo uma vertizalização de toda a cidade. Residências, antes com apenas uma família, hoje viram prédios de 20 apartamentos. Essas famílias, normalmente com maior poder aquisitivo, também acabam adquirindo veículos”, afirma.
Melhores condições de crédito e medidas adotadas pelo Governo Federal, como a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), também contribuíram para facilitar o acesso ao transporte individual. Porém, um grande fator que reforça o uso diário de automóveis é a má qualidade do transporte público.
Para Nilson Nunes, a migração dos usuários do transporte coletivo para carros ou motos se reflete no número de passageiros por ônibus. Dados da BHTrans mostram que, em 2009, a quantidade diária de passageiros por ônibus sofreu uma queda de quase 10% na comparação com o ano anterior. ”É porque as pessoas, evidentemente, não estão satisfeitas com o serviço prestado”, argumenta o engenheiro.